Eu sou uma entusiasta do trabalho do Dan Buettner, o jornalista da National Geographic que identificou e estudou as áreas onde se vive mais no mundo. Neste trabalho, Dan procurou por lugares com o maior número de centenários, pessoas que vivem mais de 100 anos. Ele identificou 5 lugares, os quais chamou de Zonas Azuis, são eles: Okinawa, no Japão; Sardenha, na Itália; Ikaria, na Grécia; Nicoya, na Costa Rica e, uma Comunidade Adventista do Sétimo Dia em Loma Linda, na Califórnia. Ele descobriu que, além de viver mais tempo, as pessoas nesses lugares sofrem um quinto da taxa de doenças cardíacas, um sexto da taxa de demência e um sexto da taxa de certos tipos de câncer em comparação aos americanos.
Até muito recentemente, as taxas de obesidade e diabetes nesses locais eram inferiores a 5%. Parte de sua pesquisa foi entender as razões da longevidade e, o mais importante, os segredos para viver uma década a mais do que o americano vive em média e gastar uma fração do que a maioria dos americanos gastam com planos de saúde, ou seja, os segredos de viver uma vida longa e saudável. Como resultado, D. Buettner escreveu uma reportagem de capa da Revista National Geographic “The Secrets of Long Life” em 2005, e depois disso quatro best-sellers – dentre eles Zonas Azuis da Felicidade. Você entendeu agora por que eu sou fã do cara? Nós advogamos pela mesma causa!
Você provavelmente conhece, ou pelo menos já ouviu falar na D. Filhinha – mãe do Caio e minha avó. Agora você deve estar se perguntando o quê minha avó tem a ver com tudo isso. Vou te contar! Minha avó nasceu prematura em 20 de novembro de 1918. Sua mãe estava com a gripe espanhola e não conseguiu levar a gravidez a termo, então vovó nasceu com 32 semanas. Ela era tão pequenininha que cabia na palma das mãos de seu pai, que por isso deu a ela o apelido pelo qual é conhecida até hoje: FILHINHA. Sim, ela ainda está viva! Ela completará 106 anos em novembro deste ano (2024)!
Toda a família da minha vó viveu muito, seus irmãos e irmãs morreram com mais de 95 anos mas, ela é a única viva e a única que passou dos 100. Em seu aniversário de 99 ela dançou valsa com meu pai e fez “cabeça, ombros, joelhos e pé” com uma de suas bisnetas colocando as mãos no chão! Ela sempre nos surpreendeu com sua energia e vitalidade. Dos seus 5 filhos, os quatro primeiros nasceram em casa e ela nunca teve sequer uma dor de cabeça. Problema de saúde, só resfriado. Ao longo do meu curso de coaching de saúde, fui descobrindo os fatores que contribuíram pra que ela, assim como os moradores das zonas azuis, ultrapassasse a marca dos 100. Se você nunca leu nenhum dos livros do Dan Buettner, vou te contar o que ele achou em comum e chamou de Diretrizes Alimentares das Zonas Azuis:
Alimentação de 90 a 100% à base de plantas – Vovó cozinhou a vida toda. Ela tinha uma hortinha no quintal onde plantava couve, espinafre, mostarda, cebolinha e cenoura. Tinha ainda uma goiabeira e uma figueira, além de muitas plantas ornamentais. Jardinagem era uma de suas paixões, as outras duas eram costurar e fazer doces de frutas. A alimentação dela sempre foi bem simples: arroz, feijão, legumes e salada com alguma proteína animal em pequenas quantidades, comidinha padrão. Sempre tinha uma opção de legume ou verdura, um chuchuzinho (que vovô adorava), mandioca cozida, couve, abóbora, abobrinha, batatinha baroa, batata doce.
Pouca carne – Por razões orçamentárias carne era considerada um luxo. Vovó criou 5 filhos sem trabalhar fora, ela costurava pra família e amigos pra ter um dinheirinho extra. Ela ainda come carne, frango, carne de porco e peixe mas, em pequenas porções. Como ela tinha um congelador muito pequeno em casa, comprava carne todos os dias, sempre fresca. Frango ela costumava comprar vivo de uma vizinha que criava galinhas soltas no quintal. O frango era o prato especial de domingo. Ela mesma matava, escaldava e depenava. Daí fazia o frango cozido com todos os miúdos, incluindo os pés e o sangue. Mais fresco que isso impossível! O que eu fui descobrir mais tarde e acredito ser um dos segredos da boa saúde dela é que o Açafrão-da-terra, ou Cúrcuma, é um poderoso antioxidante e anti-inflamatório, pra falar apenas de alguns de seus benefícios. Vovó sempre colocava açafrão no frango!
Pouco peixe – Vovó nasceu e foi criada em Coromandel, Minas Gerais. Não era fácil achar peixe naquela época em Minas. Aparecia peixe quando meu tio Rui, já adulto, voltava de uma de suas pescarias e trazia peixe fresco. Naqueles tempos não eram comuns as fazendas de criação de peixes como hoje mas, infelizmente as contaminações de mercúrio eram até mais frequentes, já que naquela época ainda não havia regulamentação.
Pouco leite e derivados – Vovó nasceu e cresceu em uma fazenda onde eles criavam vacas e cabras. Como sua mãe estava doente e não pode amamentá-la, Filhinha foi criada a leite de cabra. O fato que a maioria das pessoas não sabe sobre o leite é que a caseína S1, a proteína do leite de vaca, é uma proteína complexa, de cadeia longa, que é de difícil digestão para nós humanos. Outro fato pouco conhecido é que o processo de pasteurização desativa a lactase, a enzima que ajuda a digerir a lactose e que está presente no leite cru. A maioria das enzimas são sensíveis ao calor, por essa razão alguns alimentos são mais nutritivos quando consumidos crus. Por essa mesma razão tantas pessoas hoje em dia são intolerantes à lactose. Nosso corpo produz sim lactase em abundância até os 2 anos de idade, depois disso a produção vai reduzindo. Já a proteína do leite de cabra tem uma estrutura diferente, chamadas caseína-ß e a caseína alfa-s2, ambas são cadeias mais curtas e menos complexas portanto, de mais fácil digestão.
Vovó Filhinha consumiu leite de vaca cru da fazenda até se mudar pra Belo Horizonte aos 34 anos e, desde que eu me entendo por gente, ela toma café com leite no copinho de geléia dizendo que aquela é a quantidade certinha pra ela. Como boa mineira ela sempre gostou de queijo, nada sofisticado, a grande maioria queijo Minas curado, de Coró, da Canastra ou de Araxá, sempre vindo direto da roça. Era inclusive um presente muito comum de seus sobrinhos e parentes próximos, que ela guardava como ouro pra fazer pão de queijo e degustava com moderação.
Pouco ovo – Na casa da vovó os ovos eram usados esporadicamente como substituto da carne ou do frango durante o almoço ou o jantar. Normalmente se comia um ovo por pessoa. Fora isso, os ovos eram usados ocasionalmente em receitas e, claro pra fazer o famoso pão de queijo! O consumo de ovo é muito grande nos Estados Unidos o que incentivou o crescimento e propagação de granjas onde a produtividade foi sempre o maior objetivo. A maioria das granjas de produção em larga escala ainda fazem uso de hormônios e antibióticos além de criar os animais em condições precárias – o que de fato é a contra-indicação comum para o o consumo de proteína animal de maneira geral.
Uma dose diária de feijão – Bem, os brasileiros em geral comem feijão praticamente todos os dias e o da vovó sempre foi delicioso! O ingrediente principal sempre foi amor, minha conclusão quando descobri que ela só temperava o feijão com alho e sal. As leguminosas – família do feijão, lentilha e grão de bico, reinam soberanas nas zonas azuis e estão presentes em todas as dietas de pessoas que vivem muito no mundo. Leguminosas são mais nutritivas do que qualquer outro alimento na terra!
Pouco açúcar – Sim, vovó costumava fazer e ainda gosta de comer muitos doces, a maioria deles de frutas e caseiros. Ela costumava limpar o açúcar por horas antes de fazer a calda do doce. Suas compotas favoritas eram mamão verde, goiaba, casca de laranja, figo, goiaba e banana. Os figos e goiabas vinham do quintal, cultivados organicamente. Ela não era cautelosa com o açúcar em si, mas não existiam alimentos processados na sua dispensa então, ela nunca teve que se preocupar com açúcares adicionados ou aditivos químicos. Ela geralmente comia doce como sobremesa e na maioria das vezes com queijo curado. Afinal doce sem queijo é igual abraço sem beijo, como dizia meu avô! E por sinal, essa é a melhor forma de se consumir carboidratos, combinados a uma fonte de proteína para evitar picos de insulina.
Coma castanhas diariamente – Esta é uma das duas únicas diretrizes das zonas azuis que não se aplicam à vovó. Castanhas ainda não fazem parte do dia a dia do brasileiro, até mesmo a castanha-do-pará é cara no Brasil! Castanhas contêm o tipo de gordura mais saudável que existe (a natural, claro!) além de vários nutrientes essenciais para os nossos metabolismo, sistema imunológico e saúde mental. Sempre que possível adicione castanhas na sua salada, em suas receitas ou coma um punhadinho no seu lanche.
Pão fermentado – Sourdough ou pão feito com fermento biológico (de fermentação natural) é o tipo mais comum de pão consumido pelos brasileiros, nosso pãozinho francês. Vovó costumava comer metade de um pãozinho no café da manhã e outra metade no lanche da tarde. Enquanto meu avô esteve vivo, almoço e jantar com comidinha de verdade era o padrão das refeições, inclusive nos finais de semana. Comer fora era uma raridade.
Grãos integrais – Esta é a segunda diretriz que não se aplica à vovó. Sua comida sempre foi caseira, sem nada artificial, mas o arroz era sempre branco, a farinha branca e o açúcar refinado. Mas, as coisas ficaram mais industrializadas e contaminadas desde então. Por isso sempre que possível opte por grãos integrais que contém maior quantidade de fibra – como a farinha de trigo e o arroz integrais.
Beba principalmente água – A vovó nunca bebeu nenhuma bebida alcoólica. Também nunca foi fã de sucos ou refrigerante. Ela dizia sempre que comer a fruta era melhor! E ela estava 100% certa! Ela também dizia: Coma uma laranja ou uma banana para esperar o almoço, ou seja, coma frutas nos intervalos das refeições – de novo, certo! Café sim, ela adora! Também bebem café os moradores da Sardínia, Ikaria e Nikoia. Café, aliás como tudo, em moderação é ótimo! Lembrando que o café é uma planta, sempre que possível, escolha um que seja de cultivo orgânico, de boa qualidade, sem aditivos.
Esse é o paralelo entre minha avó e os moradores das Zonas Azuis no que se refere à alimentação. Claro que a alimentação sozinha não faz ninguém viver muito mas, falo disso em outros posts!